terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Temer e sua Ponte para o Futuro precarizam o serviço público

NÃO SEJAMOS INGÊNUOS - Decreto do Temer extingue 60 mil vagas: entre o alarmismo e o realismo. 



Alguns colegas defendem que muitos de nós Bibliotecários estamos sendo alarmistas frente a uma meia dúzia de vagas de Bibliotecários extintas, especialmente no INCRA, através de decreto presidencial

Analisando os críticos ao nosso abaixo assinado e às notas das entidades bibliotecárias identifiquei 3 grupos: 1) Alguns denunciam um certo alarmismo por não gostarem de quem está criticando o decreto (CFB, CRB, anuidades, descontentamento pelo trabalho que fazem, etc.); 2) outros estão nutrindo uma simpatia pelo golpista pelo seu antiesquerdismo (se a Esquerda não gosta mais de Temer - visão deles é de que ter feito aliança significa amar o aliado momentâneo - então Temer não deve ser tão ruim); e 3) um terceiro grupo tentou tranquilizar colegas preocupados com o futuro, pois há um interesse econômico em evitar queda na quantidade dos inscritos para cursos preparatórios para concursos da área. Talvez esse terceiro grupo seja ingênuo demais para perceber as reais intenções da Standard&Poor's (S&P), quando rebaixa a nota do país frente a "tímidos cortes" e não vê que podemos estar assistindo a ponta do iceberg, não apenas meia dúzia de vagas a menos. 

É legítimo defender uma visão otimista, mas quando você chama o outro de "alarmista" isso merece uma defesa, pois você desqualifica a crítica atribuindo um adjetivo pejorativo ao denunciante, transformando-o num irresponsável que incendeia a área desnecessariamente ou com intenções político-ideológicas. Quando dissemos que o golpe era contra a classe trabalhadora e não contra o PT ou Dilma, muitos não acreditaram em nós. Agora muitos já percebem que Dilma era uma pedra no sapato e por isso foi removida. Que ela não saiu por causa das pedaladas fiscais, quando comparamos o volume de denúncias de corrupção contra Temer. 

No Brasil (mais do que em outros países) é preciso sempre tentar enxergar além das aparências. Talvez meia dúzia de vagas da Biblio não pareça muito, num primeiro olhar, mas a extinção de 60 mil vagas da Administração Pública é mais uma etapa do descompromisso governista com o serviço público e do compromisso desse grupo, que apoderou-se do poder com as políticas neoliberais, resultando num completo descaso com Educação e Cultura. É possível dizer que tal ação permite a hipótese de novos cortes na Biblioteconomia, o que transformaria os alarmistas em realistas. Não se trata de um pessimismo, pois quem acompanha os noticiários percebe que cada passo desse governo é um novo ataque aos que não estão no topo da parede. Já quem trabalha na área pública sabe que vagas de bibliotecários são transformadas em vagas de outras profissões o tempo todo. Exemplo: Uma biblioteca tem dois bibliotecários e um se aposenta. A direção vai lá e pede a transformação da vaga em um de Tecnologia da Informação ou Técnico em Assuntos Educacionais. Como a lei diz que deve ter, no mínimo, um bibliotecário nada podemos fazer senão esbravejar. Isso acontece no serviço público e acontece muito. Centenas de vagas de Economistas, Engenheiros e outros cargos foram extintos. Alguém duvida que o salve-se quem puder não vai se agravar internamente no serviço público? 60 mil vagas perdidas vai acirrar as disputas internas. Então mesmo que o governo não faça mais nada, já dificultou a criação de novos concursos para a área, pois plantou a semente da escassez de códigos de vagas. 

No fundo eu torço que meu realismo seja apenas um alarmismo. Mas será que no Brasil de Temer, que segue lutando para enfiar goela abaixo a filha do Roberto Jefferson, como Ministra do Trabalho (tendo ela sido condenada pela Justiça do Trabalho) gritar contra a extinção de vagas de bibliotecários, em meio ao corte de 60 mil vagas no serviço público é alarmismo? ou será realismo?